A educação como componente primordial para a superação dos cenários de violência, opressão e pobreza que afeta parte das mulheres no país, com apoio de pessoas que fazem o acolhimento adequado nessa situação, foram considerados essenciais para a mudança da sociedade, em audiência pública da Comissão de Educação (CE) desta terça-feira (30). A reunião encerrou o Projeto Caminho das Flores, da Polícia Civil do Distrito Federal, que começou a ser promovido há um ano com esse fim.
Em sua segunda edição, a iniciativa começou numa delegacia de Taguatinga Norte (cidade-satélite de Brasília) e inclui ações de proteção policial, com atenção especial para os encaminhamentos dos processos de violência doméstica (como prisões e conclusões de inquéritos) e de integração das vítimas à comunidade por meio do ensino e da conscientização.
Atendimento psicológico, assistência social e jurídica, oficinas, aulas de defesa pessoal, cursos de empreendedorismo e workshops viabilizados por parcerias com academias, faculdades, administrações regionais e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) fazem parte do arcabouço criado para proteger e alavancar a independência das mulheres vítimas de violência e de suas famílias no DF.
Palestras para a conscientização sobre o que é necessário fazer para a superação de dificuldades e até plantio de árvores integram os 53 dias de atividades do projeto, iniciado sempre no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, e encerrado em 30 de abril, Dia Nacional da Mulher.
Idealizadora da proposta, em um ano a agente de polícia Deise de Andrade viu a iniciativa crescer. De Taguatinga, o programa chegou a outras cinco cidades-satélites — Vicente Pires, Samambaia, Ceilândia, Riacho Fundo 2 e Brazlândia — e passou a ser coordenada pelo Departamento de Polícia Circunscricional (DPC) da Polícia Civil do DF.
— Enfrentar a verdade nem sempre é fácil, mas é o começo de uma vida digna de ser vivida. A educação é a porta aberta para que as mulheres possam ter espaços de poder e visibilidade social e garantir o direito de ser o que querem ser e fazer o que querem fazer — afirmou.
A delegada Márcia Pessanha, titular da delegacia do P Sul, em Ceilândia, frisou que a aproximação, o olhar de solidariedade e compromisso e o apoio à comunidade vão impactar positivamente e até mesmo diminuir os índices de criminalidade e violência no futuro.
Coordenador dos trabalhos da audiência, que foi requerida por Izalci Lucas (PSDB-DF), o senador Nelsinho Trad (PSD-MS) ficou tão impressionado com o Caminho das Flores que convidou as organizadoras e integrantes a apresentarem-no ao governo de Mato Grosso do Sul, por meio da Secretaria de Atenção à Mulher.
Superação
As participantes da audiência deram seus exemplos de superação pessoal alcançadas por meio da educação. Vindas de famílias quase sempre carentes, com esforço pessoal e oportunidades de estudo chegaram a delegadas de polícia, promotoras e advogadas, e levam suas histórias e conhecimentos para que outras mulheres superem barreiras e alcancem seus sonhos.
— Hoje meu foco principal é impactar positivamente a vida das pessoas. Percebi que a maturidade vai chegando e fica claro que é nossa responsabilidade orientar os jovens — disse Neydja Morais, procuradora da Fazenda Nacional e integrante do Projeto Caminho das Flores.
A administradora regional de Taguatinga, Karolyne Guimarães, citou pesquisa do IBGE que comprovou a influência da educação materna no aumento da escolaridade e no rendimentos dos filhos.
— É algo concreto. A educação e a estrutura da mulher, o que ela busca de conhecimento, tem influência direta na sociedade, porque influencia seus filhos. Ou seja: mulheres, estudem, se profissionalizem cada vez mais, porque vocês influenciam o futuro do Brasil, o futuro da nação e do mundo, e isso é muito importante — afirmou.
Diretora de Gênero do Fórum de Mulheres do Mercosul e também integrante do programa, Lúcia Bessa comemorou as transformações singelas que o Caminho das Flores vem proporcionando às mulheres do Distrito Federal, mas cobrou algo mais amplo, como o investimento em educação e políticas públicas que promovam equidade de gênero em todo o país, uma obrigação constitucional do governo.
— A educação só pode ser entendida como preventiva de violência se for transformadora, crítica e inclusiva. Somente essa educação é capaz de transformar o status quo, não há outra forma de educação capaz de prevenir violências, principalmente contra mulheres e meninas, que não tenha em seu bojo a criticidade e a transformação de uma situação — opinou.
Fonte: Agência Senado